Como uma das maiores fabricantes mundiais de chocolate incentiva a eficiência de lavouras brasileiras em busca sustentabilidade

Como uma das maiores fabricantes mundiais de chocolate incentiva a eficiência de lavouras brasileiras em busca sustentabilidade

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Raony Penteado, gerente comercial de sustentabilidade da Barry Callebaut. (Foto: Divulgação)

Raony Penteado, gerente comercial de sustentabilidade da Barry Callebaut. (Foto: Divulgação)

Por trás das mais de sete milhões de toneladas de chocolate consumidas todos os anos no mundo estão basicamente quatro países: Costa do Marfim, Gana, Indonésia e Nigéria, que, juntos, respondem por mais de 70% da produção mundial de cacau. O Brasil hoje ocupa a sétima posição nesse ranking.

Além do fruto esses países têm em comum o fato de enfrentarem problemas como pobreza, trabalho infantil ou áreas cultiváveis afetadas por mudanças climáticas cada vez mais frequentes. Por isso, pensar em produção sustentável de chocolate significa enfrentar desafios sociais e ambientais.

Para firmar seu compromisso com a sustentabilidade, a multinacional suíça Barry Callebaut, uma das principais fabricantes de chocolate do mundo, estabeleceu, em 2016, o plano “Forever Chocolate”. Entre as metas até 2025, estão colocar no mercado apenas chocolates 100% sustentáveis, tirar da pobreza mais de 500 mil fazendeiros parceiros, erradicar o trabalho infantil da cadeia e se tornar uma empresa carbono positiva.

Sua presença no Brasil –nos estados do Espírito Santo, Bahia, Pará e Rondônia– coloca o país no centro desses esforços. “Em uma das frentes, realizamos coleta de dados geográficos, diligência, monitoramento, rastreabilidade e análises de risco”, diz Raony Penteado, gerente comercial de sustentabilidade da Barry Callebaut. “Em outra, centramos esforços para melhorar a eficiência da produção nacional, fundamental para garantir uma cadeia mais justa e sustentável.”

Chocolate sustentável é aquele feito com ingredientes vindos de fontes 100% sustentáveis. Isso significa que a empresa conhece a origem desses ingredientes e sabe que eles foram produzidos de uma maneira que leva em conta aspectos ambientais e sociais e que contribuam para que sua disponibilidade no futuro não seja afetada.

O primeiro alvo da empresa é o aumento da produtividade média do cacauiculor brasileiro, que é muito baixa e não proporciona renda suficiente para que ele tenha uma atividade controlada e uma vida digna.

“Todos os outros problemas, sociais e ambientais, da nossa cadeia acabam caindo de volta nessa mesma questão: se o produtor não produz o suficiente e não ganha o suficiente, como ele pode remediar outros problemas?”

De acordo com Penteado, cálculos mostram que, muitas vezes, o produtor precisaria quadruplicar sua produtividade para ter renda suficiente para conseguir investir na lavoura ou propriedade e, a partir daí, tratar de questões como desmatamento, compensação ambiental e contratação de trabalhadores.

O principal programa de sustentabilidade da Barry Callebaut, o Cocoa Horizons, foca justamente nesse ponto, otimizando a parceria com cacauicultores por meio um acordo: eles se comprometem a considerar as quatro metas globais da companhia. Já a empresa passa a oferecer apoio a essas mudanças com ações de impacto, como plano de negócios e indicações técnicas para aumentar a produtividade.

O processo todo começa com um censo, com visita às propriedades, análise de risco, de desmatamento e de sobreposição com áreas públicas e verificação de necessidade de ajustes e remediações em relação a trabalho infantil e trabalho análogo à escravidão.

Em seguida, entra em cena a agenda de produtividade propriamente dita, com treinamentos, conscientização, análise de solo (que determina a aplicação de insumos e fertilizantes, que podem ser adquiridos nas filiais da companhia) e um plano de negócios individualizado, que permite que o produtor melhore sua área de plantio de cacau e depois possa replicar esse trabalho em toda lavoura. Pelo cacau comprado, a empresa paga ainda um prêmio.

“Do ponto de vista ambiental, uma lavoura que produz pouco precisa de muita área para compensar [o investimento]. Aumentar o nível de produtividade nas fazendas que temos atualmente é uma oportunidade de ganhar sem abrir muito mais área.”

Outra iniciativa envolve contornar um dos principais problemas das lavouras brasileiras: árvores velhas, de baixa produtividade e muito suscetíveis a doenças e pragas. Para isso, um viveiro foi implantado em Ilhéus, na Bahia, que junto com o Espírito Santo responde por 60% da produção da empresa em território nacional. Com capacidade para produzir 400 mil mudas, resultantes de técnicas genéticas avançadas, fornece plantas de qualidade a preço competitivo.

pé de cacau com vários frutos alaranjados

De acordo com Penteado, as mudas do ano que vem estão praticamente todas vendidas e, por conta dessa demanda, o viveiro deve ser ampliado nos próximos anos.

Além da ligação direta com a produtividade, trabalhar com plantas geneticamente melhoradas também é importante para a estratégia de sustentabilidade por um motivo simples: já é consenso científico que o cacau, reconhecido como espécie nativa, pode ser um veículo para o replantio e para estimular uma captura maior de carbono no campo.

No Brasil, a Sicao, marca local de chocolate da Barry Callebaut, feita com cacau da Bahia e do Pará e produzida em Extrema (sul de Minas Gerais), já se beneficia e financia esse tipo de atividade.

Para garantir a sustentabilidade de outras cadeias envolvidas na produção do chocolate, a companhia opta por comprar ingredientes certificados. O açúcar, por exemplo, deve ter o selo Bonsucro, certificado de padrão internacional.

CALDEIRA DE BIOMASSA DE CACAU GERA ENERGIA ALTERNATIVA

Para a Barry Callebaut, a tecnologia atrelada a seus processos de sustentabilidade não vem só na forma de engenharia genética (das mudas do viveiro de Ilhéus) e de apoio técnico aos cacauicultores. No ano passado, a fábrica de Itabuna, também na Bahia, passou a contar com uma caldeira de biomassa para produzir energia alternativa ao gás e à eletricidade. Seu principal combustível é a casca de cacau, resíduo do processo de fabricação da pasta de cacau.

O que sobra desse processo de queima são cinzas e um material semelhante a um lodo, que funciona como corretivo na lavoura para melhorar o pH do solo e suas propriedades físico-químicas. Produtores interessados podem agendar a retirada do material gratuitamente.

“Outra tecnologia fundamental para estimular a sustentabilidade da cadeia do cacau envolve sistemas e dados de processo”, diz Penteado. “Do ponto de vista operacional, permitem que sejamos eficientes para entregar mais para o produtor; do ponto de vista da diligência, possibilitam análise de risco e geográfica, monitoramento socioambiental e também rastreabilidade para termos a certeza e a garantia de onde vem nossa matéria-prima.”

 

Matéria: NETZERO